terça-feira, 15 de julho de 2008

Confissão Pública

Fingindo, num tom praticado e afável, esboçar um outro sorriso; deixar transparecer outra ilusão. Tentando ao mais ingénuo espectador vender outra mentira composta do que é "bem", "correcto", e "aceite".
Neste amargo e animal ensaio de sobrevivência, cintamos o que não se encaixa, e fechamos os olhos ao imperfeito – fora ao menos simples ser verdadeiro! Porque é tão difícil ver nos defeitos dos outros um reflexo de nós mesmos, e tão fácil ilustrarmo-nos nas suas qualidades se são elas as que mais nos carecem?

Procedi mal. Bem sei. Mas deverão todas as discrepâncias ser tomadas como crus insucessos? Ou há em cada desvio do caminho uma nova porta surpreendente que se nos aparece escancarada?
Serão todas as dores, todas as perdas, maléficas e incapacitantes? Ou há na mudança sofrida um cariz edificante e regenerador que, como força motriz profunda, nos vai construindo aos poucos?

Dor! Flagelo de sofrer a perda da tua companhia, coroa de espinhos saber-te desiludida… o peso da Cruz por, nisto, ainda perder noites em claro – sem saber se valeu a pena.
E se por Maquiavel fluí, e ao omitir sofrimento desnecessário te quis somente proteger – foi assim tão pérfida a minha campanha?
Não te peço perdão, pois a custo sei que não o mereço. E, diariamente, vais-me assombrando os sonhos... Peço-te apenas a grandeza de veres que jamais foi com a intenção de te magoar.

Pequenina, falsa – numa pincelada esboço, sem esforço, um auto-retrato: e que é mais uma confissão pública, senão uma egoísta tentativa, mesquinha e dissimulada de amordaçar os nossos demónios?

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